‘Mudança’ é um livro de memórias. Contudo, além de contar a história de sua vida com muito humor e lucidez, Mo Yan se propõe também a descortinar as mudanças ocorridas na China durante a segunda metade do século XX. Entremeando as histórias de dois colegas de escola, Lu Wenli e He Zhiwu, com a sua própria, Mo Yan cria um retrato muito particular, porém representativo, da vida na China. He Zhiwu é apaixonado por Lu Wenli desde os dias de escola, quando o relato se inicia. Nessa parte, Mo Yan se diverte ao descrever cenas de sala de aula que revelam os costumes e regras de uma escola rural chinesa. À medida que acompanhamos as trajetórias desses dois personagens, vemos Lu Wenli seguir um caminho convencional, embora com viradas inesperadas. Já a vida de He Zhiwu segue uma trejetória surpreendente, e ele investe numa tentativa de conquistar Lu Wenli. Enquanto isso, Mo Yan procura um jeito de escapar da pobreza e construir uma carreira – sem saber exatamente qual será. Mo Yan é, na verdade, o pseudônimo de Guan Moye, e quer dizer algo como “cale-se”. O escritor nasceu em 1955 numa família de camponeses da província de Shandong. Aos doze anos, deixou a escola e começou a trabalhar. Anos depois, completou sua educação no exército, onde se alistou depois do fim da Revolução Cultural, em 1976. Enquanto servia, trabalhou como bibliotecário e professor. De 1984 a 1986, estudou literatura no Instituto de Artes do Exército de Libertação Popular. Em 1988, foi aceito no mestrado de literatura do Instituto Literário Lu Xun, em Pequim. Seu primeiro livro foi publicado em 1981, mas o êxito como escritor veio apenas em 1987, com Sorgo vermelho, romance que se tornou sucesso internacional ao ser filmado pelo diretor Zhang Yimou. O filme tem a participação de outro personagem central à trama de Mudança; o caminhão soviético Gaz 51. Retratado na capa desta edição, ele é objeto da admiração dos amigos de infância de Mo Yan. Em 2012, se tornou o primeiro cidadão chinês a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Na apresentação do prêmio, a academia sueca o descreveu como um escritor que “com um realismo alucinatório, mistura lendas folclóricas, história e o mundo contemporâneo”. Entre os autores ocidentais, Mo Yan tem grande admiração por Gabriel García Márquez e William Faulkner. Diferentemente do resto da obra do Nobel chinês, Mudança difere por não beber na fonte do realismo fantástico. Como diz o escritor alemão Martin Walser, “nenhum outro autor (…) explica tanto da história numa trama contemporânea”. Com seu tom prosaico e despretensioso, traduzido com grande competência por Amilton Reis, o autor constrói uma trama perfeitamente amarrada e mostra seu apreço por uma linguagem inusitada e pelas surpresas da vida.
Mudança – Mo Yan
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