Rovy De La Cruz é um homem perigoso, ganha a vida fazendo coisas ilegais. É irascível, intenso, forjado para ser o pior. Não deveria sequer se atrever a lançar um olhar na direção da filha do pastor, a jovem boa e gentil, acostumada a seguir à risca as regras rigorosas da igreja na pequena Remissão.
O que ninguém sabe é que eles já se conhecem. Na infância, o garotinho rabugento, marcado pela violência em casa, e a menina curiosa e insistente haviam sido melhores amigos. Vizinhos de muro, encontravam-se às escondidas durante muito tempo.
Hava era o que tinha de melhor na vida de Rovy.
Até o dia em que esse elo foi desfeito.
Agora ele está de volta, os sentimentos inocentes da infância já não são os mesmos. Rovy se cansou de se esconder nas sombras para admirá-la de longe. Cansou-se de ver a dor nos olhos dela, uma que mais ninguém na maldita cidade parece ser capaz de enxergar, sem poder fazer nada.
Hava precisa dele. E é hora de ela saber que ele, bem, ele também precisa dela.
“Não me olhe assim”, pedi, escondendo a urgência sob a máscara impassível que eu vinha treinando.
“Assim como?”, ingenuamente, ela sussurrou.
Droga, eu odiava o que enxergava em seus olhos: o medo, a insegurança, a incerteza a meu respeito.
“Como se não soubesse o que esperar de mim. Ainda sou eu, Hava”.