Que Misterio Tem Clarice_ – Sergio Abranches

Que Misterio Tem Clarice Sergio Abranches

Mistura de prosa e ensaio, novo romance de Sérgio Abranches aborda questões como a memória, identidade e a história recente do país O ano é 2012. Clarice, escritora e professora bem-sucedida, recebe uma notícia inesperada. Tem um tumor maligno e só mais alguns meses de vida. Final dos anos 70. Uma adolescente sai de uma delegacia, em São Paulo, com o vestido encharcado de sangue. Seu rumo é a clandestinidade. Em 1972, uma moça chamada Amália visita cidades do interior de Minas Gerais, dizendo estar à procura de uma tia. Réveillon de 1978. Um casal de jovens amanhece nas areias de Ipanema sem saber que aquela noite mudaria suas vidas para sempre. O novo romance de Sérgio Abranches parte dos dias atuais para, numa viagem por tempos e paisagens distintas, narrar a história de uma mulher que acaba se confrontando com um passado que julgara esquecido. Numa trama que alia engenho e delicadeza, usa a ficção para abordar temas caros ao Brasil contemporâneo, como a culpa nos processos históricos, as faces movediças da verdade, o autoritarismo e a indiferença. Seu ponto de partida é a convivência de Clarice com os dois filhos. No momento em que ela recebe o diagnóstico, Jorge, o primogênito, está na África, fotografando. Marina está em uma cidade histórica da Boêmia, escrevendo reportagens de turismo. Logo eles se reúnem à mãe para desfrutarem momentos de cumplicidade, em longas conversas sobre literatura, filosofia e história. E é aí que se revela uma das características mais marcantes deste livro: a mistura de prosa e ensaísmo. Com referências a Kafka, Hemingway, Garcia Lorca, Hermann Hesse e Wittgenstein, os diálogos e pensamentos de Clarice dão vida a debates cheios de nuances, em busca de clareza. Com uma narrativa envolvente, o romance converge para um ponto central: qual é, afinal, o segredo de Clarice? Na teia que se desenha ao redor dessa pergunta, o autor cria um elogio à coragem, à alteridade e ao prazer de estar vivo. Ante a morte, a protagonista se volta, resoluta, para a celebração da vida e de suas contradições.

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