O Bispo e seus Tubaroes – Natalia Viana

O Bispo e seus Tubaroes Natalia Viana

Na manhã do dia 15 de junho de 2012, um helicóptero Robinson da Polícia Nacional paraguaia sobrevoou um terreno de 2 mil hectares no município de Curuguaty, próximo à fronteira com o Mato Grosso do Sul. Lá embaixo cerca de 70 camponeses – incluindo mulheres e crianças – ocupavam a terra no auge de uma disputa com o poderoso Blas N. Riquelme, ex-presidente do conservador Partido Colorado. O sobrevoo do helicóptero foi apenas o primeiro sinal: logo depois, centenas de policiais das forças de elite, da polícia montada e de grupos antimotins entraram no terreno para exigir a saída dos sem-terra. Seguiu-se um intenso tiroteiro e em poucos minutos 17 pessoas – 6 policiais e 11 camponeses – foram assassinadas num dos episódios mais brutais da história recente do Paraguai. No palácio presidencial em Assunção, Fernando Lugo imediatamente reuniu ministros e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Seu chefe de gabinete, Lopez Perito, resumiu a urgência da situação: “Presidente, esse é o início do impeachment”. Uma semana depois Fernando Lugo, primeiro presidente de esquerda a chegar ao poder em um dos países mais pobres da América do Sul, foi deposto num impeachment que durou menos de 24 horas, por esmagadora maioria de 39 votos a 4 no Senado. “Eu sabia que iria terminar assim”, diria Lugo à Agência Pública, dois meses depois. “O poder, mesmo, nunca foi meu”.

O livro “O Bispo e Seus Tubarões” reconta essa tragédia que mudou o destino político do país vizinho, episódio a episódio. Escrito pela jornalista Natalia Viana, uma das diretoras da Pública, a série foi finalista do Prêmio Gabriel García Márquez, da Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano, em 2013.

Atualizado, o e-book recebeu uma introdução do premiado jornalista Mauri König, que investigou Horácio Cartes, atual presidente do Paraguai. Cartes foi o maior articulador da derrubada de Lugo dentro do Partido Colorado. “O vice que tramou pelas costas assumiu seu curto mandato em 22 de junho de 2012 e, muito pronto, o Paraguai se viu com um novo presidente, eleito em abril de 2013 e empossado em agosto do mesmo ano. Decerto os paraguaios supunham ter feito bom negócio. Afinal, Horacio Cartes apresenta-se como homem bem sucedido à frente de suas empresas e do clube de futebol Libertad, 3º colocado da Libertadores em 2006. Mas vejamos com que tinta se escreveu a história daquele que viria a ocupar o lugar de Lugo no Palácio de los López”, escreve Mauri König. “Ele é o homem por trás do contrabando do cigarro, um negócio que desbanca o narcotráfico em algumas fronteiras sul-americanas e começa a redesenhar a geopolítica do crime organizado. (…) Cartes é o maior beneficiado pelo contrabando. Responde por 30% de toda a produção paraguaia. Os paraguaios fumam só 2%. O resto assegura ao país o papel de maior provedor latino-americano de cigarro pirata. Cinco das 11 marcas produzidas por Cartes responderam por 79 milhões de maços apreendidos no Brasil entre 2010 e 2013, metade de todo o cigarro ilegal confiscado no país”.

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