A solitária Ana, que sonha ser escritora, é a protagonista de Vergonha dos pés, romance de estreia de Fernanda Young e que virou peça de teatro. Cursando a faculdade de letras, a personagem decide abandonar as aulas para se dedicar ao primeiro livro, mas suas histórias jamais chegam ao papel. Em contrapartida, os leitores da vida real mergulham nos pensamentos da jovem, lírica e imprevisível.
Depois de um ano e meio na faculdade de letras, Ana questiona a necessidade do curso e se pergunta o que fará com o diploma depois de formada. Graças a uma bolsa integral que financia seus estudos, a jovem pode permanecer na cidade e morar longe da mãe. Sabendo que precisa completar com louvor todos os semestres, mas sem vontade de frequentar as aulas, ela aproveita o início do período para fingir dores na coluna e conseguir uma licença no departamento médico da universidade.
Enquanto divide seu tempo livre entre sessões de fisioterapia – o preço a pagar pelos dias de descanso – e momentos de puro ócio, a protagonista imagina o livro que deseja escrever. Em sua cabeça, se desenrola a história de Lívia, casada com Jonas, um famoso arquiteto, e melhor amiga de Mirna. Na vida de Ana, também há dois amores: o namorado Jaime e a amiga Elisa, que mora em uma cidade distante.
Quando o namoro com Jaime entra em crise, Ana deixa o apartamento em que os dois viviam e volta a morar sozinha. Para ela, o amor deveria ser somente o início, acabando antes de cair na rotina e sufocar as pessoas com o tédio, consequência da desvalorização inevitável que atinge todos os relacionamentos. Inconformado, Jaime fica atrás de Ana, o que só aumenta a vontade dela de que ele a deixe em paz.
Com uma narrativa sem linearidade, Vergonha dos pés alterna o presente de Ana, sozinha e entediada, com momentos da adolescência dela, sua conturbada relação com os pais, conversas com Elisa e toda a história de amor com Jaime. Paralelamente, os personagens que existem somente na imaginação da jovem vivem tramas sórdidas e repletas de emoções extremadas, que facilmente se confundem com os sentimentos de sua criadora.