A relação entre a literatura e a vida sob a opressão política é o fio condutor dos ensaios de Sempre a Mesma Neve e Sempre o Mesmo Tio, de Herta Müller, escritora alemã vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2009. Os ensaios dão conta da ligação entre criação artística e experiência pessoal, marcada pelos efeitos do terror e da repressão impostos pelo ditador Nicolau na Romênia, onde Herta viveu antes de partir para a Alemanha. Em Cristina e seu simulacro, ela relata como, durante a época em que trabalha como tradutora em uma fábrica, é intimada a converter-se em espiã da polícia secreta romena. Numa reviravolta irônica e trágica, após recusar a proposta mesmo sob ameaças, passa a ser vista pelos colegas como colaboradora e é isolada: os mecanismos de difamação da ditadura impõem a punição velada. Em Um corpo tão grande e um motor tão pequeno, a escritora apresenta a figura do pai, motorista de caminhão e alcoólatra que ingressara voluntariamente na SS durante o regime de Hitler. Depois de sua morte é que Herta Müller começa a escrever. A mãe, que foi deportada pelo regime comunista e passou cinco anos num campo de trabalhos forçados, é apresentada no ensaio que dá título ao livro. É por esse caminho, entremeando memórias da infância e da juventude e relatos vívidos do cotidiano sob a vigilância da polícia secreta, que a escritora chega às reflexões sobre a importância da literatura, “que pode inventar, por meio da língua, uma verdade que mostra o que acontece ao nosso redor quando os valores descarrilam”. Sempre a Mesma Neve e Sempre o Mesmo Tio traz também o discurso de agradecimento de Herta Müller por ocasião da entrega do Prêmio Nobel de Literatura.
Sempre a Mesma Neve e Sempre o Mesmo Tio – Herta Müller
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