Scivias – Hildegarda de Bingen

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Até recentemente, as mulheres visionárias da Idade Média da Europa Ocidental eram negligenciadas pelos estudiosos. Historiadores alemães tendiam a ver as duas grandes profetisas do século XII, da região oeste da Alemanha, às margens do rio Reno (Renânia), Hildegarda de Bingen e Isabel de Schönau, e o grupo místico do convento de Helfta, no século XIII, como importantes somente na medida em que elas prenunciaram o protestantismo. A intensa piedade afetiva feminina dos começos do século XIV, descrita nas coleções de visões e biografias pias, conhecidas como Nonnenbücher [Livros das freiras], deixava os estudiosos tão nervosos, que eles desconsideravam completamente essas obras, exceto como provas filológicas do desenvolvimento da língua alemã. Estudantes ingleses do misticismo difamavam seus próprios místicos do sexo feminino e a tradição continental como “experiencial”, e julgavam suas obras, juntamente com aquelas de escritores devocionais do sexo masculino tais como Richard Rolle, inferiores aos escritos místicos especulativos, neoplatônicos. Os historiadores da ciência e da psicologia, bem como os estudiosos da fenomenologia da religião, reiteradamente explicavam as experiências visionárias das mulheres como neuroses ou enfermidades (enxaqueca, histeria, anorexia nervosa, e assim por diante). Ademais, conforme Peter Dronke ressaltou, não há nenhuma escritora importante oriunda da Idade Média cujas obras os estudiosos modernos não tenham atribuído (frequentemente com muito poucas provas) a um homem.[1] Se eu tivesse escrito este prefácio em 1950, eu poderia ter demonstrado que a única coisa que as diversas escritoras da Idade Média tinham em comum era o desprezo por parte dos estudos eruditos modernos.

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