Guimarães Rosa já era o consagrado autor de dois livros cruciais da literatura brasileira, ‘Sagarana (1946)’ e ‘Grande sertão: veredas (1956)’, quando publicou ‘Primeiras estórias’, em 1962. Ao contrário do que pode dar a entender o título, está é, portanto, uma obra da maturidade do escritor, em pleno domínio de sua arte. Tanto assim, que o leitor dificilmente sai incólume do livro. Quando chega à última página, ele está encantado, extasiado, transfigurado: é um novo leitor, um novo sujeito. São 21 narrativas curtas, povoadas por um elenco inesquecível e personagens – arredios, estranhos, enfezados, loucos, infantis ou sonhadores – protagonistas de algumas das ‘estórias’ mais belas da língua portuguesa, como ‘A terceira margem do rio’, ‘Sorôco, sua mãe e sua filha’ ou ‘Tarantão, meu patrão’.
Os contos gravitam entre o lirismo e a tragédia, a comédia e o épico, o fantástico e a sátira, conduzidos pela linguagem extraordinária de Guimarães Rosa (1908-1967), na qual não existem fronteiras entre a fala popular e a escrita literária, o realismo e o irracional, a ficção e a filosofia. ‘Primeiras estórias’ é um livro sobre seres miúdos e comoventes escondidos nos cantos remotos de Minas Gerais, mas é também sobre a grandeza irredutível da vida, a misteriosa força dos homens e a magia primordial da língua e da linguagem. Raras vezes a literatura brasileira foi capaz de tanta audácia, invenção e inteligência.”