Logo depois de voltar da guerra em Angola, António Lobo Antunes escreve Os Cus de Judas, sobre suas experiências naquele país. O romance se tornou um enorme sucesso, vindo a ser o primeiro grande livro sobre o conflito e a independência angolanos e uma referência histórica obrigatória.
Numa narrativa não-linear e fragmentada, Lobo Antunes revela as inquietações existenciais de um ser humano, na indelével experiência de uma guerra, que se misturam às memórias de infância e juventude na Lisboa salazarista.
O autor utiliza-se, na maior parte do romance, do fluxo de consciência e da associação de idéias, para construir a história e o perfil de seu narrador-protagonista, um personagem que, a partir de “uma dolorosa aprendizagem da agonia”, vê sua vida e seus valores estilhaçados pela melancolia. O que lhe resta são fragmentos de memória — a criança que visitava com os pais o jardim zoológico aos domingos, o jovem que assiste impassível a seu futuro sendo traçado pela autoridade inquestionável de uma família salazarista, o adulto apático e frustrado diante da vilolência que lhe retira as rédeas e o sentido da vida.
O leitor vai estar frente a frente com “decadência, putrefacção, pestilência e morte. Adicionando canalhice, violência e insensatez”. Para o jornalista português Nuno Barbosa, “Lobo Antunes, dando plena expressão a uma escrita impiedosa e grosseira consegue uma harmonia preciosa entre a violência do narrado e a rudez dos termos utilizados — as suas palavras ganham, portanto, uma credibilidade muito maior, criando, assim, um elo profundo com a realidade.”
O livro, que recebeu o prêmio Franco-Português conferido pela Embaixada da França em Lisboa, está na 21.ª edição em Portugal e já foi vendido para mais de dez países, entre os quais Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Suécia.