Espera-se que John Grisham alcance a marca de 100 milhões de livros vendidos nos EUA ainda em 2003, o que faz dele um fenômeno editorial como poucos. Um dos fatores que o ajudarão a atingir esta marca invejável certamente será o atual sucesso de O rei das fraudes, seu novo livro, que chega agora ao Brasil já laureado pela crítica internacional. A história mostra o universo das ações indenizatórias coletivas e traz um questionamento ético polêmico – quem é pior: as grandes corporações que vendem produtos prejudiciais à saúde ou os advogados que ficam de olho nos milhares de consumidores lesados?
A figura central da história é Clay Carter, um advogado de 31 anos que trabalha na Defensoria Pública de Washington, a capital norte-americana. Sem dinheiro nem ambição social, ele vive de defender criminosos que não têm como pagar um advogado decente. Rebecca, sua namorada há anos, cansada de estar ao lado de um perdedor, encerra o relacionamento e casa-se rapidamente com um homem tão ou mais rico quanto ela, para desgosto de Clay. Mas é só ele chegar ao fundo do poço que uma oportunidade de ganhar dinheiro fácil resolve lhe sorrir.
É o que acontece no dia em que Clay é procurado pelo misterioso Max Pace, que se apresenta como um freelancer especializado em apagar incêndios, pago para consertar os problemas das grandes corporações antes que advogados e jornalistas os descubram. Atualmente ele está trabalhando para um gigante da indústria farmacêutica que acaba de criar um medicamento capaz de livrar quase qualquer pessoa da dependência de drogas como crack e cocaína. O remédio ainda não está no mercado e provavelmente jamais estará, pois testes ilegais em cobaias humanas revelaram que ele tem um grave defeito: o de despertar em 8% dos pacientes um desejo incontrolável de matar, que só cessa com a interrupção do tratamento. Seis pessoas já morreram nas mãos dessas cobaias. E o que Max Pace quer é que Clay Carter aceite 15 milhões de dólares como honorários para providenciar a indenização das famílias das vítimas sem alarde, sem processos judiciais, sem publicidade negativa para o laboratório e sem a queda do valor das ações da empresa. Clay aceita a proposta e se torna um homem rico da noite para o dia.
Essas famílias sequer imaginam que poderiam receber algum dinheiro, pois pensam que seus filhos morreram por causa da violência das ruas. Além do mais, os assassinos estão todos presos. Por isso é fácil para Clay convencê-las a aceitar, cada uma, uma indenização de 4 milhões de dólares num acordo mal explicado mas devidamente documentado. E enquanto Clay enriquece, os assassinos mofam na cadeia, sem saber explicar por quê, de uma hora para outra, tornaram-se criminosos. Um deles era cliente de Clay, mas foi abandonado à própria sorte assim que o advogado teve acesso ao terrível segredo industrial que lhe rendeu uma fortuna.
Em poucos meses, as informações privilegiadas de Max Pace fazem de Clay um homem incrivelmente rico. Quando Pace lhe revela que um laboratório concorrente pôs no mercado um outro medicamento defeituoso, que provoca tumores, Clay descobre o mundo das ações indenizatórias coletivas. Sua estratégia consiste em: 1) Divulgar em comerciais de TV aterrorizantes o erro do laboratório; 2) disponibilizar para as vítimas em potencial do medicamento uma linha telefônica pela qual elas podem contatar o escritório de Clay; 3) realizar exames médicos gratuitos nas pessoas que telefonarem, a fim de descobrir se elas foram afetadas pelo remédio e, portanto, podem se juntar ao processo coletivo que o advogado moverá contra o fabricante; e 4) usar o medo que as vítimas têm de morrer para convencê-las a se tornarem suas clientes. Assim, Clay consegue ser contratado por milhares de pessoas prejudicadas pelo medicamento. E como elas concordaram, por contrato, em lhe dar um terço da indenização que ele arrancasse do laboratório, o advogado fatura cem milhões de dólares só com este caso.
Daí em diante, Clay entra num ritmo alucinado de enriquecimento. Em conseqüência disso, ele também começa a gastar dinheiro como jamais imaginaria que pudesse, comprando uma mansão, um iate, um jatinho e tudo mais. As capas de revistas estampam sua foto com o apelido de Rei da Fraude. Todos os poderosos o procuram, com a intenção de tirar algum proveito dessa nova máquina de fazer dinheiro. Até o presidente dos EUA o recebe na Casa Branca, tentando atrair fundos para sua campanha de reeleição. Mas há dois problemas. O primeiro é que nada disso apagou em Clay a tristeza de ter perdido Rebecca, a mulher que ele ama. E o segundo é que sua fortuna está sendo construída com base na falta de ética e em segredos nebulosos revelados por Max Pace, um homem cujo nome verdadeiro Clay sequer sabe. Onde esse trem desgovernado vai parar? Só acompanhando o empolgante romance de John Grisham para saber.