Com mais de 400 milhões de visualizações em pouco mais de um ano, os vídeos do coletivo Porta dos Fundos transformaram a maneira de fazer rir no Brasil. Um dos maiores responsáveis por esse sucesso é sem dúvida o ator e roteirista Gregorio Duvivier, que tem revelado grande habilidade em transformar a tragicomédia da vida contemporânea numa provocativa salada de gags que misturam absurdo e realidade. Ligue os pontos mostra que, para além da prosa humorística, o tratamento lúdico das palavras pode render poesia de qualidade. Refinada no curso de Letras da PUC-Rio – e elogiada por autoridades como Millôr Fernandes, Paulo Henriques Britto e Ferreira Gullar -, a escrita poética de Duvivier tem foco na importância descomunal dos momentos insignificantes do cotidiano. Flashes pungentes e irônicos da adolescência – o autor é um expoente da ‘geração do bug do milênio’ -, o mistério da criação, as palavras e suas relações inusitadas, a experiência do amor vivido enfim como gente grande, a transitoriedade de tudo – tendo a geografia sentimental do Rio de Janeiro como pano de fundo, a constelação de poemas de ‘Ligue os Pontos’ revela uma dicção marcadamente individual, que flerta, contudo, com o melhor da tradição carioca nonchalante, e extrai do dia a dia compartilhado imagens de desconcertante beleza.