Neto de um pastor da Assembleia de Deus, Fabio Marton tinha “uma condição inscrita nos genes”: tornar-se um crente pentecostal fervoroso. E assim ele começou a pregar no púlpito da igreja, aos 10 anos de idade. Hoje um jornalista cético especializado em ciência, ele explica como ocorreu sua desconversão durante sua adolescência extremamente atribulada.Muitas figuras curiosas habitam o mundo de Ímpio. O avô pastor é um exemplo de honestidade, mas também de rigidez impenetrável. Há um pastor vidrado em armas, guerra e músicas da Wanderlea, que dizia fazer cair fogo do céu (e mostra no livro o que queria dizer por isso). Outro pastor conta que visitou o Inferno e voltou em três dias. Uma prima diz ter visto o Diabo em pessoa. E há o próprio autor, aficcionado por ciência desde a infância, que, na mesma pré-adolescência em estudava células sanguíneas num microscópio, subia no telhado para ver o mundo acabar, ajudava a expulsar o demônio da própria mãe, tinha um demônio exorcisado de si mesmo e experimentava muitos outros “milagres da fé” – que ele mesmo trata de desconstruir ao longo do livro.
Todas essas experiências são narradas sem ressentimento, mas com a ironia leve de que já esteve do outro lado. De quem conheceu muito intimamente a fé antes de abandoná-la. É um romance de formação, de conhecer a si próprio e ao mundo, mas também de adolescência, revolta, descoberta do sexo, videogame e rock’n’roll (de drogas tem álcool, aos 8 anos).
Ímpio é um livro que defende a descrença, mas é recomendado não apenas a ateus, agnósticos e pessoas em dúvida, mas a qualquer um que tenha curiosidade sobre os evangélicos, não como meras caricaturas de fanatismo ou hipócritas rebentando de desejos reprimidos, mas como humanos reais e cheios de contradição. Ou esteja interessado em uma boa história