Humilhados e Ofendidos – Narrado sob o ponto de vista do personagem principal, Humilhados e Ofendidos possui o caráter psicológico e moral das grandes criações do autor, e reconhecido posteriormente como uma das contribuições mais brilhantes e profundas para a literatura moderna. Vânia, o protagonista, é um homem sensível, um escritor que relata em tom protocolar e, contraditoriamente, confessional e emocionado os acontecimentos vividos por uma família pobre e sofrida de uma grande cidade – talvez haja aí uma referência autobiográfica do próprio autor. Em contraponto está o príncipe Valkóvski, viúvo, aristocrata, que enriqueceu através de artimanhas, astuto e um egoísta no mais íntimo do seu ser. Se todos os seus pensamentos verdadeiros pudessem aflorar, seria tão repugnante que “traria um grande mau cheiro” – nas palavras do próprio Dostoiévski. Certamente estamos diante de um prenúncio daquela personalidade, daquele tipo que mais tarde se denominaria “o homem de subsolo”, reiteradamente presente na obra do escritor, e que representa uma síntese complexa do individualismo, da vaidade, da indiferença ao sofrimento alheio e da maldade presentes na alma humana.
A narrativa de Humilhados e Ofendidos envolve o leitor definitivamente. O encadeamento da ação, a dramaticidade dos acontecimentos e as personagens são um retrato contundente e expressivo dos despossuídos em todo seu sofrimento e humilhação. Porém, a grandiosidade da obra de Dostoiévski não está unicamente em retratar a condição de abandono e submissão daqueles que estão distantes do poder e dos bens materiais. Sua grandiosidade está em atribuir a essa representação um caráter moral, que supera as circunstâncias e se torna permanente.