Um dia, em miúdo, ao fim da tarde, achávamo-nos na quinta e um bando de pássaros levantou voo do castanheiro do poço na direcção da mancha da mata, azulada pelo início da noite. As asas batiam num ruído de folhas agitadas pelo vento, folhas miúdas, fininhas, múltiplas, de dicionário, eu estava de mão dada contigo e pedi-te de repente Explica-me os pássaros.”
Publicado originalmente em 1981, Explicação dos pássaros é o quarto romance de António Lobo Antunes. Em seus livros anteriores — a trilogia formada por Memória de elefante, Os cus de Judas e Conhecimento do Inferno —, o autor se valia de uma forte vertente autobiográfica ao construir suas narrativas, referindo-se constantemente à psiquiatria, à experiência da guerra em Angola, à desintegração da família e às suas lembranças da infância em Benfica.
Em Explicação dos pássaros, no entanto, ele deixa de lado boa parte de suas experiências vividas para contar uma história densa, vibrante, sobre um homem que, mergulhado no desespero e na frustração, ruma aos poucos para um final trágico e inexorável.
Rui S. é um professor universitário em crise. Abandonado pela primeira mulher, com quem teve dois filhos, casou-se novamente apenas para evitar a solidão. Por conta dos rumos que escolheu para a própria vida, é desprezado pelo pai e pela família. Após visitar a mãe agonizante num hospital de Lisboa, parte de carro com Marília, sua segunda mulher, em uma viagem de quatro dias em que pretende lhe pedir a separação. Com uma narrativa de grande força dramática, Lobo Antunes traça os instantes finais dessa jornada sem volta, de um homem assombrado por antigas recordações e incapaz de mudar os caminhos que escolheu.
Explicação dos pássaros, um relato contundente de um dos maiores escritores da língua portuguesa, mescla presente, futuro e lembranças do passado para narrar os últimos dias de um homem que, como um personagem das tragédias gregas, ruma a um destino inescapável.