Último texto ficcional de Hilda Hilst, Estar sendo, ter sido foi publicado em 1997 e obteve, à época, grande repercussão literária. Espécie de testamento literário da autora, nele encontramos fundidos temas, gêneros e personagens pertencentes à sua obra pregressa, funcionando como balanço e síntese de seu projeto literário radical. O relato organiza-se em duas partes, ambas concluídas com seqüências de poemas. Nelas, o narrador Vittorio, com 65 anos, se recorda de suas experiências afetivas e sexuais e prepara-se para morrer. Ao seu lado, o irmão Matias, dez anos mais moço, o filho Júnior e a empregada Oroxis, além de outros personagens secundários, como a advogada Lucina, o bispo Dom Deo, o comerciante Bembom e sua filha Rosinha, compõem seu pequeno cotidiano sem acontecimentos relevantes. A construção textual, de grande complexidade, mistura as falas e pensamentos de todos os personagens (inclusive reais, como o escritor Mora Fuentes) num único fluxo narrativo, cabendo ao leitor ir desmontando os períodos e reconhecendo as interlocuções entre os agentes. Ao mesmo tempo, a autora funde de forma apenas aparentemente anárquica todos os gêneros literários, entremeando o relato com poemas, algumas citações com receitas de supostos suicídios indolores, receitas de drinks, um conto de Júnior, uma carta e diálogos típicos do texto teatral, afora menções a Ulisses, Ovídio, Goya, dentre outros.