Um amigo meu, que da coisa política tinha o sentido da oportunidade e do humor a mestria, queixava-se de Salazar, no dia seguinte ao da sua morte, por ele não ter deixado escritos íntimos – nem memórias, nem diário. Apenas agendas, com as anotações do dia-a-dia, apenas cartas, que não davam a dimensão da densidade e da complexidade do personagem. E acrescentava que, se esses escritos nunca viessem a aparecer, a Pátria ficaria viúva, duplamente viúva: do homem e da sua alma. Por isso, concitava os intelectuais, “urbi et orbi”, a meterem mãos à obra, a fim de produzirem o diário que nos faltava e, assim, colmatarem tão grande falha na História de Portugal!
Uma brincadeira… que eu tomei a sério, vinte e tal anos depois, num dia em que me faltava assunto para as minhas ficções e me sobrava curiosidade pela figura de Salazar.
As Memórias que Salazar não Escreveu – Albano Estrela
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