O episódio que desencadeia o fluxo narrativo em Amuleto, baseado em fatos reais, foi extraído de Os detetives selvagens, obra-prima de Roberto Bolaño. Trata-se da invasão do campus da Universidade Nacional Autônoma do México pelas tropas do exército, nos agitados dias de 1968, e da resistência silenciosa de uma personagem que, escondida no banheiro feminino da Faculdade de Filosofia e Letras por muitos dias, escapa da fúria repressora dos invasores. Esta personagem — um misto de artista meio hippie, louca e andarilha — é a imigrante uruguaia Auxilio Lacouture, auto-intitulada “mãe dos poetas e da poesia mexicana”.
Mas a genialidade de Bolaño em Amuleto é transfigurar essa personagem lendária e convertê-la em narradora na primeira pessoa. É a única narradora feminina em toda a sua obra, e seu relato configura uma homenagem aos poetas e artistas do México, mexicanos ou exilados espanhóis e latino-americanos.E também uma elegia a todos os jovens latino-americanos mortos na resistência às várias ditaduras instaladas no continente.Para conseguir esse intento, sua prosa torna-se altamente poética.
O Autor
Nasceu em 1953, em Santiago do Chile. Instalado na Espanha a partir de 1977, exerceu diversas atividades manuais para sobreviver. Depois do sucesso de crítica de La literatura nazi en América (1996), publicou várias obras em poucos anos. Morreu de insuficiência hepática em Barcelona, em 15 julho de 2003.