Pressupomos que o cinema é uma linguagem imagética capaz de ampliar nosso raciocínio crítico sobre temas jurídico-filosóficos, a partir da sua profícua associação dialógica com teorias críticas do direito. Nesta coletânea, mostraremos como a temática da violência, do poder e do direito aparecem relacionados não só na obra de Walter Salles, mas em grandes filmes nacionais como um todo, ao longo de mais de cinquenta anos. Em sentido amplo, estas relações abusivas são perpetradas pelos próprio Estado, mas, eventualmente, elas aparecem reproduzidas na esfera privada também. Revelam, de um ponto de vista crítico, traços de nossa cultura, que acabam por comprometer a legitimidade jurídico-política, em sentido mais amplo.
Esta temática permanece atual em sua realidade e o problema do abuso de poder e do uso não razoável da violência ainda estão presentes e vem constantemente sendo reproduzidos pelos governos e pela sociedade. A linguagem fílmica, por englobar os conceitos-imagem, apreendidos de forma racional e emocional, ao mesmo tempo, permitem um acesso cognitivo a elementos subjetivos que passam despercebidos na convivência concreta. Todos os catorze filmes brasileiros analisados nesta coletânea partem deste elemento de articulação comum, apesar de apresentarem pontos de vista diversos em termos temáticos. Convidamos o leitor a adentrar na sala escura do pensamento imagético.