Por Beatriz Resende
Pagu com Adriana, em Paris.
A pesquisadora vai passar um ano em Paris, para levantar dados, deslindar enigmas dos anos pouco estudados que Patrícia Galvão passou na França, entre 1934 e 1935. A investigadora, porém, é uma romancista consagrada, vários livros publicados. Ou seja, a ficção lhe corre nas veias.
A narrativa poderia começar de várias formas, como um projeto, um contexto histórico, mas começa assim: “Meu nome é Adriana Armony. Parece nome artístico, mas não . Não tem a ver com harmonia, como alguns imaginam. Armony sem agá. E com ípsilon. Significa ‘meu castelo’, em hebraico”. Aí está toda a diferença. Das buscas na Biblioteca Nacional, em arquivos policiais, de partidos e organizações, surge a militante que tem um corpo, um corpo sofrido, machucado. Como tem corpo a escritora, mas esse dança, faz amor.
Juntas circulam pelos metrôs, pelas ruas de Paris, enfrentam manifestações e protestos. A cidade mudou, mas o machismo dos dirigentes dos anos 1930 perdura ainda nos jovens charmosos dos cafés de hoje.
Pagu no metrô traz pesquisas e fotos novas, descobertas importantes em hospitais e arquivos. Os documentos trazem verdades, momentos da realidade de Pagu e outras mulheres, operárias, militantes, mas é uma voz de mulher que conta suas histórias. Para falar delas, a autora precisa falar de si, ou não seria verdadeira.
Confidências, pesquisa e ficção se misturam, conduzidas por uma primeira pessoa implacável que não é um mero recurso literário. É expressão de uma forma nova, cultivada em terreno feminista, com perspectivas críticas que partem de um olhar que se sabe diferente e inédito.
Pagu no metro não é biografia nem autobiografia, é testemunho de vida de duas mulheres a quem não faltou coragem. Diz Adriana: “Apesar disso, não omitirei nada. Não cheguei até aqui para dourar nenhuma pílula.