“– É tarde. Corra.
Tomei a dianteira e abri a porta. Fiquei olhando apreensivo a esposa que se contorcia tentando enfiar o pé no tênis azul marinho enquanto pressionava o botão do elevador com uma das mãos. Trench coat com tênis! Não combinava nada, mas não tinha jeito. Ela não tinha mais sapatos. Jogara fora tudo que era produto de couro.”
Publicado originalmente em 2007, A Vegetariana é um “romance-novelas” (desenvolvido em três novelas juntas no mesmo volume) publicado na Argentina, China, Coreia do Sul, Japão e Vietnã.
Han Kang é expoente da nova geração de escritores coreanos, autora várias vezes premiada em seu país, e livre da marca das “grandes questões nacionais”, que pesavam sobre os ombros dos seus predecessores literários, submersos em profundas sombras do passado, buscando agora detalhes minuciosos das vidas dos indivíduos e do seu contexto. A literatura de Han Kang se ampara no realismo, mas é dotada de uma imaginação sem limites.
A Vegetariana é um romance composto de três partes que se complementam e formam um todo, mas podem ser lidas independentemente.
O livro conta a história de uma mulher coreana que decide não comer mais carne e enfrenta toda a repercussão social que uma decisão deste tipo provoca naquele país.
A primeira parte é contada do ponto de vista do marido, um funcionário de médio escalão que está começando a galgar os degraus da hierarquia da empresa onde trabalha. É através dos olhos dele que percebemos o estranhamento que as atitudes de sua esposa provocam.
A segunda parte, cuja narrativa tem um leve toque sensual, é contada a partir da perspectiva do cunhado (marido da irmã) da vegetariana, um artista na área de cinema e vídeo que decide fotografar e filmar a cunhada e acaba desenvolvendo uma queda por ela.
A terceira parte é contada do ponto de vista da irmã que se vê dividida entre o dever fraternal que ela sente de proteger a irmã mais nova e o quanto ela compreende as atitudes da irmã e o que a levou a tomá-las