A História Secreta dos Jesuítas – Edmond Paris

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Um escritor do século passado, Adolphe Michel, lembrava que Voltaire estimava em seis mil o número de obras publicadas sobre os jesuítas àquela época. ‘A que número chegaremos um século depois?”, perguntava Adolphe Michel, apenas para terminar em seguida: “Não importa. Enquanto houver jesuítas, livros terão de ser escritos contra eles. Nada mais pode ser dito de novo sobre eles, mas as novas gerações de leitores surgem todos os dias, e esses leitores procurarão por livros velhos?” A razão a qual acabamos de mencionar seria mais do que suficiente para justificar a retomada desse assunto exaustivamente discutido.
De fato, muitos dos primeiros livros retratando a história dos jesuítas não podem mais ser encontrados. Apenas em bibliotecas públicas ainda podem ser consultados, o que os torna inacessíveis à maior parte dos leitores.
Com o propósito de informar suscintamente ao público em geral, pareceu-nos necessário um sumário dessas obras.
Há também outra razão, tão importante quanto a que acabamos de mencionar. Ao mesmo tempo em que novas gerações de leitores surgem, novas gerações de jesuítas aparecem, e estes, trabalham ainda hoje, com os mesmos métodos tortuosos e tenazes com os quais tão freqüentemente no passado fizeram funcionar os reflexos defensivos de nações e governos.
Os filhos de Loyola, mais do que nunca, são a ala dominante da Igreja Romana. Tão bem disfarçados quanto antigos, continuam a ser os mais eminentes “ultramontanos”; os agentes discretos mas eficazes da Santa Sé em todo o mundo; os campeões camuflados de sua política; a “arma secreta do papado”.
Este livro é ao mesmo tempo uma retrospectiva e atualização da história do jesuitismo. Pelo fato da maioria das obras referentes aos jesuítas não mencionarem o papel primordial deles nos eventos que estão subvertendo o mundo nos últimos cinqüenta anos, acreditamos ter chegado o momento de superarmos essa lacuna ou, mais precisamente, iniciarmos com nossa modesta contribuição um estudo ainda mais profundo sobre o assunto.
Fazemo-lo, sem ignorar os obstáculos a serem enfrentados pelos autores não – apologistas, desejosos de tornarem públicos escritos sobre esse assunto tão incandescente.
De todos os fatores integrantes da vida internacional de um século cheio de confusões e transtornos, um dos mais decisivos – e ainda não suficientemente reconhecidos – reside na ambição da Igreja Romana.
Seu desejo secular de estender sua influência ao Oriente fez dela o aliado “espiritual” do Pan-Germanismo e, ainda, sua cúmplice na tentativa de conquistar poder supremo, em duas ocasiões, 1914 e 1939, trazendo morte e ruína aos povos da Europa. O público praticamente ignora a responsabilidade absoluta do Vaticano e seus jesuítas no início das duas guerras mundiais – uma situação que pode ser parcialmente explicada pelos fundos gigantescos à disposição do Vaticano e seus jesuítas, dando-lhes poder em muitas esferas da vida social, especialmente a partir do último conflito.
Na realidade, o papel desempenhado por eles nesses eventos trágicos, quase nem chegou a ser mencionado até o presente momento, à exceção dos apologistas, ansiosos por disfarçá-lo. É com o objetivo de corrigir isso e estabelecer os fatos verdadeiros que apresentamos nesta e em outras obras a atividade política do Vaticano na atualidade – atividade esta que também conta com a participação dos jesuítas.
Apesar da tendência generalizada cada vez maior de uma “laicização” (exclusão da religiosidade); do progresso inelutável do racionalismo, que reduz um pouco a cada dia o domínio do “dogma”, a Igreja Romana não poderia desistir do grande objetivo, o qual tem sido seu propósito desde o início: reunir sob o seu domínio todas as nações da Terra. Essa “missão” monumental deve continuar, independentemente do que aconteça, tanto entre os “pagãos” quanto entre os “cristãos separados”.
O clero secular tem, em especial, a tarefa de sustentar as posições adquiridas, o que é particularmente difícil hoje em dia, enquanto fica a cargo de certas ordens regulares o aumento do rebanho de fiéis, pela conversão dos “hereges” e “pagãos”, um trabalho ainda mais árduo.
A tarefa é de preservar ou adquirir, defender ou atacar e, na frente de batalha, está a força de combate da Companhia de Jesus – os jesuítas. Essa companhia não é secular nem regular nos termos de seus estatutos; é, no entanto, um tipo sutil, intervindo quando e onde for conveniente, dentro e fora da Igreja.
Resumindo: “A Companhia de Jesus é o agente mais qualificado, mais perseverante, mais destemido e mais convicto da autoridade papal”, como a descreveu um de seus melhores historiadores.

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