Publicado em 1954, Fazendeiro do ar é um dos livros decisivos de Carlos Drummond de Andrade. É um conjunto de versos que, tendo saído depois da voga classicizante de Claro enigma (publicado três anos antes), continua na tarefa de observar a vida e a inquirir o sentido das coisas.
Há no volume diversas amostras do melhor de Drummond sobre a “indesejada das gentes”: poemas como “Viagem de Américo Facó”, “O enterrado vivo”, ou
então o inesquecível ciclo de poemas sobre cemitérios — na melhor tradição de Paul Valéry —, entre outros. Como em Claro enigma, há a presença de formas fixas (o soneto, por exemplo) a serviço de uma lírica preocupada em investigar o ciclo da vida.
Com seu tom noturno a atravessar suas páginas, Fazendeiro do ar não por acaso principia com o soneto “Habilitação para a noite”, um clássico da lírica drummondiana, cuja estrofe inicial parece fornecer a temperatura geral do livro: “Vai-me a vista assim baixando / ou a terra perde o lume? / Dos cem primas de uma joia, / quantos há que não presumo”.
Ao mesmo tempo, o livro celebra o erotismo (no poderoso “Escada”) e a vida (“A Luis Mauricio, infante”), aprofundando ainda mais a empresa drummondiana de tentar compreender a complexidade da vida íntima e social.
Fazendeiro do Ar – Carlos Drummond de Andrade
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