O escritor uruguaio situa este romance no seu país de origem, mas numa época diferente, na qual grande parte da América Latina se encaminhava para o controle de governos militares. Gracias por el fuego é um livro que fala sobre frustrações – coletivas e pessoais. As primeiras se referem às desilusões de uma geração incoformada com a crise econômica e social que assolava o país. Já as pessoais envolvem três gerações da família Budiño que, a partir de uma profunda falta de diálogo, refletem uma impotência coletiva: Edmundo, cínico magnata, dono de um jornal; Ramón, um de seus filhos – que dirige uma agência de turismo montada pelo pai –; e Gustavo, o neto.
A relação conflituosa vivida entre Edmundo e Ramón começa quando o segundo descobre que o senhor Budiño não era o homem de caráter perfeito que todos imaginavam. Foi então que, de pai admirado, Edmundo se torna apenas o “Velho” para Ramón. Ele, por sua vez, mantém uma apática relação com o filho, Gustavo, e um casamento rotineiro com Susana. A vida profissional também não o atrai. O trabalho na agência de turismo é um mero formalismo. Frente a tantas decepções, numa tentativa desesperada de se libertar, planeja a morte do pai como única solução possível. Mas, assim como no restante de sua vida, não é bem sucedido e fracassa, tal como o país que se encaminha para um futuro incerto.
Mario Benedetti nasceu em 1920 em Paso de los Toros, a 200 quilômetros ao norte de Montevidéu. Começou a trabalhar com 14 anos. Foi taquígrafo, vendedor, livreiro, jornalista, tradutor e funcionário público. Entre 1945 e 1975, trabalhou no célebre semanário Marcha. No período do exílio, passou por diversos países como Espanha, Argentina, Cuba e Peru. Membro destacado da chamada “geração de 45” ou “geração crítica”, é autor de diversas obras como Montevideanos, livro de contos (1959), e La tregua, (1960), que lhe conferiu fama internacional. Gracias por el fuego, de 1965, foi censurado durante a ditadura uruguaia.