“E não há Guerras tão furiosas e sangrentas, nem tão duradouras, quanto as que são ocasionadas por Diferenças de Opinião, especialmente quando se trata de coisas sem importância.”
Quem lê pela primeira vez a versão original de “Viagens de Gulliver”, tendo como pano de fundo uma vaga lembrança de adaptações infantis, espanta-se ao constatar que tem nas mãos um dos textos mais amargos do cânone ocidental.
Como observa George Orwell no prefácio incluído nesta edição, o livro de Jonathan Swift, apesar de todo o seu ressentimento e misantropia, é uma obra deliciosa, que permite vários níveis de leitura. É um livro de viagens – ou melhor, uma sátira aos livros de viagens; para as crianças, é uma história de aventuras, cheia de criaturas fantásticas e de humor escatológico; e é um dos marcos iniciais da ficção científica. Porém o que mais fascina o leitor maduro é o olhar implacável que Swift volta sobre o homem, suas instituições, seu apego irracional ao poder e ao ouro, e sua insistência em prolongar a vida mesmo quando esta só proporciona sofrimento.
Este volume inclui também introdução e notas de Robert DeMaria Jr., reproduções de folha de rosto e do fronstispício da primeira edição do livro, e mapas das diferentes terras que aparecem no romance.