Não se deve confiar no óbvio. Pelo menos quando o assunto é Agatha Christie. Em O VISITANTE INESPERADO — peça teatral transformada em romance por Charles Osborne — a velha dama do suspense mostra porque é considerada mestre no assunto e já vendeu milhares de exemplares em todo o mundo. O mistério é o personagem principal numa trama repleta de reviravoltas, diálogos tensos, diversos suspeitos e com final surpreendente.
O VISITANTE INESPERADO pode ser definido como um mistério disfarçado de não-mistério, pois começa aparentemente com a resolução de um caso de assassinato. O engenheiro Michael Starkwedder atola seu carro numa vala num frio fim de tarde de novembro. Ao procurar ajuda numa casa das imediações, dá de cara com um cena bizarra. Uma mulher, segurando uma arma ao lado do cadáver do marido, se confessa culpada. Mas nada é tão simples quanto parece. O morto — o deficiente físico Robert Warwick — era um sádico de caráter irascível, odiado por muitos.
A cada virada de página, ao se descortinarem as idiossincrasias de Warwick, fica mais difícil acreditar que ele tenha sido morto pela esposa. Satarkwedder encarna o detetive amador e começa a investigar o caso. A ele logo se junta um inspetor de polícia com inclinações poéticas — sempre citando autores famosos, entre eles Keats. Os dois suspeitam que a viúva está tentando encobrir alguém. Talvez o pai de um menino atropelado e morto por Warwick dois anos antes. Quem sabe o cunhado retardado. Ou o amante da viúva.
A dúvida fica no ar até o último instante. Ao adaptar a peça O VISITANTE INESPERADO, Charles Osborne resgata uma história inédita para uma legião de fãs de Agatha Christie.