Ao concluir a autobiografia romanceada “O Ginógrafo”, a pedido de um bizarro executivo alemão que fez carreira no Rio de Janeiro, José Costa, um escritor fantasma de talento fora do comum, se vê diante de um impasse criativo e existencial. Escriba exímio, “gênio”, nas palavras do sócio, que o explora na “agência cultural” que dividem em Copacabana, Costa, meio sem querer, de mera escrita sob encomenda passa a praticar “alta literatura”. Também meio sem querer, vai parar em Budapeste, onde buscará a redenção no idioma húngaro, “segundo as más línguas, a única língua que o diabo respeita”. Narrado em primeira pessoa, combinando alta densidade narrativa com um senso de humor muito particular, “Budapeste” é a história de um homem exaurido por seu próprio talento, que se vê emparedado entre duas cidades, duas mulheres, dois livros, duas línguas e uma série de outros pares simétricos que conferem ao texto o caráter de espelhamento que permeia todo o romance, e que levaram o professor José Miguel Wisnik a afirmar que se trata de “um romance do duplo”. Tenso e à vontade, cultivado e coloquial, belo e grotesco, “Budapeste” traz a perfeição narrativa de “Estorvo” e “Benjamim” e confirma Chico Buarque como um dos grandes romancistas brasileiros da atualidade.
Budapeste – Chico Buarque
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