O filósofo francês Jacques Rancière levanta questões sobre o sistema político atual de uma forma que poucos cientistas políticos têm coragem de fazer. Sem importar lados ou bandeiras, é um livro para fomentar boas e acaloradas discussões. O que é democracia? Países que usam tropas para defender o sistema são de fato democráticos? Neste ambicioso ensaio, ao longo de mais de 100 páginas, Jacques Rancière disserta sobre questões centrais sobre o conceito de democracia e como ele é praticado nos dias atuais.
Colocando em xeque políticas liberais que dizem defender esta forma de governo usando poderio militar, Rancière argumenta que há uma deturpação do ideal democrático e que o atual sistema usado, muitas vezes, como argumento contra governos totalitários , na verdade, é guiado por uma classe dominante que não o deixa existir plenamente. Em uma análise atemporal, o autor examina as formas pelas quais justificativas a favor da democracia são usadas contra o próprio sistema, além das contrariedades dos principais países e forças capitalistas. Nações autoproclamadas democráticas querem supostamente levar o sistema para outras regiões e, para isso, invadem e obrigam esses lugares a seguir suas regras. Dessa forma, esses países espalham a democracia de forma violenta, enquanto vendem uma imagem democrática dentro de seu próprio território (apesar de, muitas vezes, reprimirem lutas sociais dentro dele mesmo).
Rancière também fala sobre o que ele acredita ser uma obsessão pelo individualismo democrático presente na sociedade há décadas. Para o autor, esse conceito é parte do chamado ódio à democracia, um conceito que, segundo o autor, é tão antigo quanto a própria ideia de democracia. Ele discorre sobre a relação entre este sentimento e a racionalização da infinitude de desejos individuais como um sintoma do excesso do que hoje conhecemos por democracia.
Em O ódio à democracia, Jacques Rancière descreve a complexa relação entre democracia, política, república e representação, buscando encontrar um sentido diante da contraditoriedade entre a idealização do conceito democrático e a dura realidade que vivenciamos.