No centenário da morte de Júlio Verne (1828-1905), a Antígona lança um romance que não se encontra certamente entre os mais conhecidos. A Invasão do Mar, editado em 1905, é, no entanto, a última obra que o escritor reviu antes de morrer, no dia 24 de Março do mesmo ano. Na realidade, o manuscrito denominava-se O Mar Sariano, e o título pelo qual Verne premonitoriamente optou evoca a catástrofe, a devastação, a morte, colocando assim a narrativa sob o signo de uma fatalidade anunciada.
Numa primeira abordagem, o que despertará o interesse do leitor é o facto de ser um exótico romance «tunisino», e consagrado a um sonho, ou a uma utopia, que deve tanto aos sortilégios da mitologia quanto aos cálculos dos geógrafos e dos economistas. Trata-se, por um lado, de um romance dúplice, na medida em que o herói da liberdade, Hadjar, e o campeão dos empreendimentos tecnológicos audaciosos, De Schaller, são colocados no mesmo plano, e, por outro, de um romance trágico, pois a tragédia, pelo menos segundo Pierre Corneille, reside na encenação de um dilema cuja insolubilidade só pode ser resolvida através do sofrimento e da morte do herói.
Este pode ser considerado um texto-testamento, um texto-confissão, onde, através do subterfúgio da ironia, Verne põe em causa a presunção do capitalismo e do colonialismo em mudar o mundo, impondo as suas leis aos povos cujo direito à terra usurpam, em nome do bem futuro deles, e no qual é notório que Verne viveu dividido entre a sua admiração pelos heróis modernos da ciência e da tecnologia ocidentais, e a sua vocação sempre juvenil e irreprimível de tomar parte no heroísmo libertário.