Conhecido pelo futuro distópico que criou em Admirável mundo novo, o inglês Aldous Huxley se debruça nesse ensaio potente, publicado em 1952, sobre um caso real do passado: a suposta possessão de todo um convento em meados do século xvii, no interior da França, por diferentes demônios. A prioresa Jeanne des Anges foi quem primeiro sofreu com a ação das criaturas infernais; não demorou para que as outras freiras ursulinas entrassem em convulsões, torcessem os corpos e proferissem blasfêmias. Os demônios de Loudun, que teve sua última edição no Brasil em 1987, faz parte do projeto da Biblioteca Azul de reeditar a obra de Huxley no país.
Os espetáculos públicos de exorcismo liderados por padres da região culminaram com a execução pública na fogueira do pároco local, Urban Grandier ? um jovem devasso bastante apreciado pelas fiéis e odiado em igual proporção pela população masculina de Loudun. As sessões de exorcismo perduraram por algum tempo depois de sua morte, até que Jeanne des Anges desejou se tornar santa ? e nessa condição viaja pela França e é recebida inclusive pelo cardeal Richelieu, pela rainha Ana da Áustria e pelo rei Luís xviii.
Munido de autobiografias dos envolvidos, de variados documentos históricos sobre o caso e de estudos sobre transcendência, psicologia, contexto sexual da época e temas afins, Huxley acompanha e comenta os principais acontecimentos em torno de Jeanne des Anges, de Grandier e do padre Surin, exorcista que cuida da prioresa e, pela relação próxima que estabelece com ela, chega a ser possuído também. Em meio à narrativa, reflete sobre o sentimento religioso e as teorias da alma humana; não descarta o pensamento místico, mas o relaciona a contextos históricos e à política. Acaba por envolver o caso em um sentimento de época, bem caracterizado pela relação da Igreja com a repressão sexual.[…]