Quatro personagens sem nada em comum, a não ser a vontade de botar um ponto-final em suas vidas, se encontram no alto de um prédio em Londres, na noite de Ano-Novo. Tomados pelo impulso solidário de não permitir que os outros se atirem, os dois homens e as duas mulheres acabam adiando a decisão de morrer e formam um peculiar grupo de apoio à vida.
Mas o pacto de sobrevivência é descoberto pela imprensa local, que se regozija com a história pouco convincente de que naquela noite o apresentador de tevê Martin Sharp e seus amigos receberam a visita de um anjo que lhes convenceu a não pular. O que o público não sabe é que a história fantasiosa foi inventada como parte dos planos de sobrevivência criados pelos quatro, que, imbuídos da tarefa de se manterem vivos até pelo menos o Dia dos Namorados — outra data bastante requisitada para suicídios —, têm como objetivo apenas tornar a vida mais divertida até o próximo compromisso.
Utilizando os recursos narrativos que consagraram seus livros anteriores, Nick Hornby emprega em Uma longa queda o humor autodepreciativo e as referências à cultura pop, mas prepara uma surpresa para os leitores ao tratar de temas tão polêmicos como o suicídio, a pedofilia, o abandono afetivo da família e a incapacidade mental. Tidos como especialidades da ciência ou material para a literatura de autoajuda, os abismos psíquicos e sociais surgem no livro em sua forma mais evidente e humanizada, como histórias vividas por pessoas comuns — e que por isso mesmo não escapam de um certo ridículo da experiência do dia a dia.